A PROFANAÇÃO
DO CENÁCULO
Ademir Alves de Melo
Quarta-feira (3) escrevi sobre devaneios e desvarios e o
festival de besteiras que assola a UFPB. Ficou sem resposta a questão central,
que preocupa: por que Ele & Ela se comportam como donatários de um lugar
aonde chegaram circunstancialmente e de onde não mais querem se apear? Faz
lembrar a marchinha de carnaval dos anos
cinquenta “Daqui não saio, daqui ninguém me tira!”
“Seu” Biu dos Novaes, trabalhador ríspido no trato como
ásperas são as suas mãos, fitou-me de frente com o seu olhar entranhável e incrustador
e disse, não sei se com altivez ou com raiva: “homem, seu menino, faz dez anos
que me aposentei e vivo por aqui, porque esta é a minha cachaça. Mas, fique sabendo
que eu nunca vi uma esculhambação tão grande como essa. Está pior do que no
tempo do magro beijador. Esses aí tão feito carrapato! Sei não, esse negócio tá
meio estranho, seu menino!” E, como sempre ocorre após esses rompantes de
filósofo-araponga, escafedeu-se como por encanto.
De fato, sem exceção, todos os dirigentes de entidades
representativas contatados manifestaram a sua estranheza e inquietação sobre o
que vem acontecendo na mais importante instituição de ensino superior da
Paraíba no ocaso da atual gestão. Há questões irrespondíveis, ou cujas
respostas não satisfazem. Assim, por exemplo, como se explica a queda de
desempenho livre acelerada, passando do topo do ranking regional para um dos
últimos lugares entre as universidades nordestinas que, há dez anos, aqui
capacitavam os seus quadros docentes nos já consolidados cursos de
pós-graduação? Como se explica a nota ZERO obtida no Exame Nacional de
Desempenho de Estudantes, por conceito de ensino, em 2010? Que dizer da
centralização do poder de decisão e a indiferença ao sentir comunitário, apenas
auscultado em reuniões dos Conselhos Superiores, mercê da sensibilidade de
alguns conselheiros marginalizados do entourage na corte? Até a bancada de
concreto reservada aos observadores, na sala de reuniões da SODS, foi demolida,
restringindo ao mínimo os assentos para a assistência, como forma de afastá-la
desse convívio. E como justificam a falta de políticas de capacitação do
pessoal técnico-administrativo, legado à vala dos esquecidos? Por que
desmobilizaram o Fórum Universitário? Por que minguaram os recursos
extra-orçamentários, afora os originários do REUNI, comuns a todas as
instituições congêneres? Na maioria das universidades brasileiras a pauta de
prioridades e a alocação dos recursos REUNI surgiram de amplas e participativas
discussões em audiências itinerantes. Aqui não. No essencial, tudo foi definido
nos gabinetes refrigerados por tecnocratas que têm aversão a audiências
públicas.
Parece irrelevante, mas vale a pena lembrar a cada oportunidade
um fato inédito na história política da Paraíba: todos os deputados federais
(menos um) e todos os senadores da República solidarizam-se, em nota, com a
nomeação de Margareth Diniz e Eduardo Rabenhorst.
Como já divulgado, Ele & Ela, vararam a madrugada da
quarta-feira (3/10) em direção ao TRF-5, no Recife. Apelaram contra a sentença
prolatada pelo Juiz Federal João Bosco Medeiros de Sousa, que deferiu (26.09.2012)
a antecipação dos efeitos da tutela de mérito na ação movida pela reitora
eleita. Programaram a viagem para Brasília, no dia seguinte, para comprovarem junto
ao MEC a existência de uma pedra no meio do caminho para a nomeação de
Margareth Diniz. Mas, foram surpreendidos com a notícia de mais uma derrota
colecionada na Justiça. É que o Egrégio Tribunal despachou o reclamo com a
rapidez de um raio.
Na verdade, o que pretendem com esses recursos intempestivos
é procrastinar a nomeação da reitora eleita. Pura birra curtida, sentimento
pequeno de remordimentos e rancores acumulados. Ele & Ela sucumbiram em seu
devaneio e sede insaciável de poder.
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