O PRESIDENTE DE MOMBAÇA

O PRESIDENTE DE MOMBAÇA
Ademir Alves de Melo*

Em 1989, quando o presidente José Sarney viajou à Europa, o presidente da Câmara dos Deputados o substituiu na Presidência da República e aproveitou a oportunidade para autorizar a construção de uma pista de pouso com capacidade para receber aviões de grande porte na sua terra natal, o município de Mombaça, no Sertão Cearense. Em boa hora, o projeto faraônico de Paes de Andrade - que ficou conhecido no anedotário nacional como “Presidente de Mombaça” - foi suspenso e redimensionado para a implantação de uma pista de piçarra de mil metros de extensão, até hoje, subutilizada no tráfego de avionetas, para a algazarra da população em festa, que acode em massa ao “aeroporto” quando pousa algum desses trambolhos voadores transportando políticos durante as campanhas eleitorais.
Outro exemplo emblemático de irracionalidade no uso do dinheiro público é a construção inacabada da Rodovia Transamazônica (BR-230), ligando Cabedelo a Lábrea (AM), com quase 4,3 mil quilômetros de extensão. Planejada para integrar o Nordeste ao Norte do país e viabilizar a ocupação da Amazônia, no conceito da estratégia militar de segurança nacional, essa rodovia jamais cumpriu com os seus objetivos proclamados. Engendrada à época da ditadura, nos eufóricos momentos de “ninguém segura este país”, onde os ataviados de ocasião diziam em alto e bom som “eu quero, eu posso”, a obra constitui a expressão mais acabado do voluntarismo irresponsável.
Semana passada, lembrei-me desses dois arroubos aventureiros ao visitar o Campus IV da UFPB, em Rio Tinto/Mamanguape. É que a Universidade criou dois cursos que nada têm a ver com as carências imediatas da região: Curso de Graduação em Hotelaria e Curso de Graduação em Secretariado Executivo Bilíngüe. Inquirido sobre tamanho despropósito, alguém se precipitou a justificar que os cursos foram projetados com visão de futuro - argumento tão fraco quanto o reboco das paredes cedentes das edificações levantadas -, posto que o futuro se constrói como projeção do presente em conformidade com as necessidades, onde se identifica a presença de metas, fins ou objetivos. Após muitas andanças, procurei, em vão, um hotel para descansar. Cansado de guerra contra essas aventuras e desventuras, tomei o caminho de volta para casa, para o regaço da paz.
De uma vez por todas, é preciso entender e introjetar nas nossas mentes que as decisões verticais na gestão da coisa pública só acontecem devido à ausência da democracia participativa, quando o planejamento estratégico se legitima na manifestação do sentir social. Por tudo isso, estou convicto de que mudar é preciso e qualificar é uma exigência para o avanço e sustentabilidade das mudanças.
* Professor doutor do Departamento de Direito Privado do CCJ/UFPB.

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Messina Palmeira

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