CAFEZINHO DE SABOR BRASILEIRO
MARCOS SOUTO
MAIOR (*)
Fui criado
em família que, a exemplo de muitas outras, estabeleceram o costume no ritual
do café da manhã. A chaleira era colocada no fogão de lenha, lá pelas cinco e
meia da manhã, e o cheiro gostoso chegava a todos os quartos e salas da casa de
taipa dos Souto Maior. Meu nariz se
enchia com ares puros dos mais de duzentos componentes percebidos pelo olfato. De
outro lado, minha mãe querida, que era professora do ensino médio, foi mais
além, quando, por volta das quinze horas de cada dia, afora sábados e domingos,
servia outro café, acompanhado com pão, bolacha, queijo coalho fritado na
manteiga e o tradicional bolo inglês.
Era um tempo
feliz, onde tudo estava ao meu redor: o centro da cidade, denominada de Ponto de Cem Réis, com seus bondes
elétricos circulando ruidosamente, a Praça João Pessoa, herói da batalha
política de 1930, que acolhe os edifícios que abrigam os três poderes
constitucionais, o majestoso prédio da Faculdade de Direito da UFPB e a famosa
Lagoa do Parque Solon de Lucena, também conhecida por ser o coração da cidade! Colegas de
universidade também davam uma passadinha para tomar o café de Dona Adélia, e
ela, que lia todos os jornais do dia da cidade, entrava na conversa da turma e
o papo ultrapassava da meia hora de bate-papo de alto nível.
No aspecto
científico, cerca de 450 milhões de cafezinhos diários no nosso país, despertou
cientistas interessados em conhecer melhor análise, a exemplo do doutor Jorge
Moll que disse: “Podemos detectar o efeito do café em vários circuitos
cerebrais. A primeira região é na percepção olfativa, chamada córtex olfativo,
onde o cheiro é percebido”.
Atualmente,
o cafezinho brasileiro detém, confortável, um terço da produção do precioso
líquido preto, extrapolando os limites das residências familiares, para optarem
por casas modernas e especializadas no ramo, todas bem decoradas, com cadeiras
confortáveis e atendimento rápido, se tornando um refúgio aconchegante para
beber o café escolhido, uma boa conversa e até um local de encontros. Meses
atrás, em estadia em Nova York, diariamente ia a StarBucks para beber o
cafezinho quente.
Recentemente,
minha estimada enteada universitária, Bruna Guerra, em viagem ao Canadá, depois
de um ano de curso em Quebec, foi conhecer Vancouver, sendo recebida pela
senhora Jacinta MacKinnon, graduada funcionária da Presidência da Assembleia
Legislativa da Columbia Britânica, oportunidade que homenageou com a boa amostra
do café São Braz e da castanha doce paraibana.
Sessentão
assumido, meu olfato continua sem perder um só dia de xícara de café quente,
até enquanto puder.
(*)
Advogado e desembargador aposentado
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