Damião Ramos, Ricardo Coutinho e Ramalho Leite |
J.A –JÁ
Por Ramalho Leite
Aquela campanha de 1965 foi a
última permitida pelo regime de 64 aos partidos nascidos na redemocratização do
País e que tomaram assento na Constituinte de 1946. João Agripino estava lá
para exercer o seu primeiro mandato de deputado federal, ao lado de Ernani
Satyro,Argemiro de Figueiredo,Fernando Nóbrega, Janduí Carneiro,João Úrsulo
Ribeiro,José Joffily, Osmar de Aquino,Plinio Lemos e Samuel Duarte que se somaram aos dois senadores naquele Congresso
com 42 senadores e 286 deputados. Dezenove anos depois, João Agripino, sob o
slogan J.A.-JÁ, desejava conquistar o Governo da Paraíba tendo como opositor
outro grande paraibano, Rui Carneiro, acrescido de Argemiro de Figueiredo, como
candidato a vice-governador. Era o embate dos chefes partidários:de um lado a
UDN, de outro o PSD e o PTB coligados.
Claudio de Paiva Leite era um dos
coordenadores da campanha de J.A. e me recrutou para acompanhar o candidato nas
suas viagens ao interior. O pequeno avião fazia mal às minhas tripas, e bastava
eu entrar no “bicho” para requisitar os pequenos saquinhos de bordo. O deputado
Romeu Abrantes, de carona em um vôo saído de Souza, com ares de psicólogo, me
curou com uma simples ordem:comigo você não vomita! Inacreditável, mas foi o
suficiente.O sertão era novidade para mim, ainda estudante e começando a
dedilhar matérias para os jornais. J.A acordava cedo, pedia um cafezinho e
fumava o primeiro cigarro.
Na visita a Souza percorremos as estradas empoeiradas que
levavam a Santa Cruz, São José da Lagoa Tapada e outras que cercavam a Cidade Sorriso,
cujo prefeito, Antonio Mariz, dirigindo um fusca, acompanhava o veículo que ia
mais adiante com o candidato a governador, conduzido por Augusto Abrantes, tio
do nosso Johson Abrantes, renomado advogado e filho ilustre do Lastro. No fusca
de Mariz, sua esposa Mabel e eu. A próxima parada foi em Santa Luzia, com
passeata pelas ruas conduzidas pelo udenista Inácio Bento, a partir do “campo
de aviação”, como se chamava antigamente.
Em Campina Grande éramos hóspedes
do Juiz João Sérgio Maia, primo de J.A. e irmão do coronel José Sérgio, chefe
político de Catolé do Rocha. Ou Catolé dos Maia? Logo pela manhã J.A recebe a
visita do coronel Luiz de Barros, devidamente paramentado com seus galões da
briosa. Passa a dar noticias, ao candidato, da situação política na região do
curimataú, de onde estava chegando.
-Passei em Nova Palmeira, Nova Floresta,
Picuí, Soledade; visitei as feiras; e a quem eu perguntava, a resposta era uma
só: J.A! É todo mundo por uma boca só... narrava entusiasmado Luiz de Barros.
Agripino ouvia e machucava o
caroço da face, com o olhar fixo no coronel. Terminada a exposição daquela
pesquisa corpo a corpo, JÁ não resistiu em utilizar sua fina ironia e com
aquele seu risinho característico, comentou:
- Luiz, você acha que com essa
fama que você tem de “brabo”, fardado e acompanhado de um pelotão de soldados,
alguém vai lhe dizer que vota contra mim?
A risadagem foi geral.
Poderia contar muitos casos e
passagens dessa memorável campanha em que eu votei pela primeira e pareceu-me,
a última, para governador. Depois vieram as indicações diretas e as eleições
indiretas. Na Assembleia, mesmo rebelado
contra a indicação de Brasília e tendo formado no grupo que defendeu a candidatura
de Antonio Mariz no Colégio Eleitoral, votei para governador, na qualidade de
deputado-eleitor. Tinha duas razoes para não votar em Tarcisio Burity. Era do
grupo de Mariz, e Burity tinha o meu adversário Clovis Bezerra como candidato a
vice governador. Dorgival Terceiro Neto, a quem eu não podia faltar, me
convenceu a votar. Foi meu segundo voto para governador, convalidando o
processo exótico de escolha engendrado pelos militares.
Comecei com João Agripino e
terminei mergulhando na paisagem política paraibana no pós 64.O que desejava
mesmo era relembrar esse grande paraibano que, se vivo estivesse, teria
completado neste primeiro dia de março, o seu centenário de nascimento. A
Paraíba deve ainda, a João Agripino, pelo que ele representou, uma grande
homenagem.
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