TRANSITADO EM JULGADO


TRANSITADO EM JULGADO
Ademir Alves de Melo
A aposentadoria pode significar a ante-sala do sepulcro para quem ama as suas atividades laborais e sente-se em família no ambiente de trabalho, se não busca alternativa ao ócio, que é a casa do diabo, na expressão popular.
Pois é o caso de “Seu Biu dos Novaes”, que agora sentou praça no hall da Reitoria, disputando horário com o vigilante que abre as portas de acesso ao prédio, como pude constatar, hoje pela manhã, quando lá estive para dirimir uma dúvida no Setor de Pessoal. Lá estava ele, airoso, sorridente, com expressão diferente da habitual sisudez marcada que cobre a sua face enrugada.
-      Tão cedo por aqui, “Seu Biu”?
-      Homem, seu menino, eu precisava chegar bem cedo prá cumprimentar a professora, pois gente pobre nunca é convidada prá solenidade de posse e essas coisas elegantes de gente chique.
-      E aí, ela já chegou?
-      Seu doutor, ela me estendeu a mão com a maior simplicidade do mundo e ainda me chamou de autoridade. Onde já se viu isso no tempo do “coisa ruim”? Mas, mudando de assunto, me diga lá o que quer dizer transitado em julgado?
-      Diz-se transitado em julgado a uma sentença judicial que já passou por todos os recursos possíveis ou, ainda, porque terminou o prazo para recorrer dessa decisão. Mas, a propósito de que esta pergunta, “Seu Biu”?
-      Homem, seu menino, eu tô com a gota serena com uma conversa que ouvi e não me conformo com tanta safadagem. Não se fala noutra coisa por aqui a não ser dessa roubalheira na Fundação. Olhe, seu doutor, que a coisa não vai ficar por aí, se a professora mandar fazer uma varredura, mas dessas vassouradas prá valer. Vai sair rato por todo lado, como num naufrágio de uma embarcação de cereais.
-      E o que tem a ver isso com o trânsito em julgado?
-      Não é nada disso o que eu quero falar, é que esse assunto tá mexendo com todo o mundo e tem guabiru solto por aí, pousando de honesto. Este negócio de transitado em julgado é que eu ouvi o professor Iedo falando pro professor Severino que o “coisa ruim” e um grupinho de amigos, inclusive os procuradores jurídicos, incorporaram nos seus salários os 84% que vocês professores também ganharam, mas depois perderam na Justiça. Eu me lembro que foi um chororô danado. Os outros perderam, mas o grupinho incorporou. O “coisa ruim” na cabeça.
-      Escute aqui, “Seu Biu”, vou lhe explicar o caso: esse grupo, que se não me falha a memória, de vinte pessoas, efetivamente, teve incorporado o percentual de 84,32% em seus rendimentos, porque o advogado da Universidade não compareceu à audiência para o julgamento da ação. Passou o prazo para a UFPB recorrer e nada foi feito neste sentido, resultando daí no trânsito em julgado do processo. Ou seja, fato consumado.
-      Mas é isso que me arreta, seu doutor, o homem tá no meio da jogada, mandando feito um coronel de engenho, cercado de assessores jurídicos obedientes, e essa turma toda sai por cima da carne seca e não se faz nada? Isso é uma safadagem!
-      Infelizmente, “Seu Biu”, é a lei. Haveria que ver se ainda há alguma forma de reverter esta situação imoral. Não é a minha área de conhecimento.
-      Esta é a legalidade mais imoral que já vi, seu menino. Não me conformo. A Dilma precisa saber disso. O problema é que esse sindicato de vocês parece mais um clube social, só vive de festas!
Dito isso, rodopiou nos calcanhares com a velocidade que a idade indefinida da velhice em pobre permite avaliar e saiu, trôpego, resmungando contra a imoralidade dos 84% incorporados.

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Messina Palmeira

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